23/03/2021
Ultimamente circula na internet e nas redes sociais, muitas informações sobre eventuais perigos do comunismo. O temor do comunismo está de volta. E para complicar as coisas, muitos religiosos que falam em justiça social estão sendo taxados de comunistas, conforme a imaginação de alguns pseudo-intelectuais. Até mesmo o Papa e alguns bispos estão sendo incluídos na lista. Para essa gente, também a solidariedade com os pobres às vezes é encarada como sinônimo de comunismo.
Se não quisermos ser manipulados, precisamos entender melhor a questão.
O comunismo se define como uma ideologia política e socioeconômica que visa implantar uma sociedade igualitária, mediante o extermínio da propriedade privada, das classes sociais e do próprio Estado. A ideia de uma sociedade igualitária, com a eliminação das classes foi teorizada por filósofos antigos, contudo, o comunismo está associado à teoria dos pensadores Engels e Marx, ambos do século XIX.
Num contexto de ameaça à liberdade religiosa e à ordem social, muitos Papas levantaram sua voz e condenaram a ideologia comunista. Essas condenações se encontram em documentos como, “Qui Pluribus” do Papa Pio IX (1846), “Rero Novarum” do Papa Leão XIII (1891), “Divini Redemptoris” de Pio XI (1937), dentre outros. Lendo atentamente esses documentos papais, podemos detectar basicamente três grandes motivos pelos quais a Igreja condenou o comunismo: 1º a promoção do ateísmo e perseguição à Igreja; 2º a defesa da abolição da propriedade privada; 3ª a visão antropológica contraria a família e favorável ao ódio entre as classes.
Infelizmente, para muitos católicos de hoje, a preocupação com o comunismo virou obsessão. Basta um padre ou bispo se mostrar preocupado com os pobres para alguém levantar suspeita. Pessoas que pensam assim, acabam esquecendo que existe uma série de documentos da Igreja que também condenam o capitalismo, o neoliberalismo e outras tantas filosofias e ideologias que favorecem injustiças e desigualdades sociais. Esse medo patológico do comunismo tem feito muitos católicos conservadores esquecerem que a preocupação da Igreja para com os pobres tem sua fundamentação no próprio Evangelho de Jesus e na doutrina social da Igreja.
Deveriam ler também outros documentos papais que chamam atenção dos fiéis para preocupação com as questões sociais
Para ter melhor clareza sobre a questão, tome como exemplo a própria família. Quando existe uma ameaça real, os primeiros que vão tomar medidas cabíveis são os nossos pais. O mesmo deve ocorrer na Igreja. Nosso bispo diocesano e o Papa, são as autoridades que vão nos orientar sobre os perigos atuais. Por isso, dê menos importância para a palavra de alguns pregadores anticomunistas, os quais focados nesta linha de pensamento, esquecem outros tantos problemas do presente, suscitados por tantas outras ideologias políticas e filosóficas. Leia mais os escritos do Papa Francisco, o qual nos aponta os desafios da evangelização no tempo presente. E se o comunismo um dia nos ameaçar, fique tranquilo. Duvido que o Papa se cale ente esta situação.
No momento atual, mais que temer o comunismo, os católicos precisam dar sentido à palavra de Jesus “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). O nosso foco atual deve ser a questão da saúde pública, o meio ambiente, a intolerância religiosa, a paz no mundo, o perigo do armamento, a indiferença religiosa, o problema das drogas, a fome, o desemprego, a falta de diálogo, a violência doméstica e contra pequenos grupos. São esses os problemas que afetam o homem contemporâneo. Quem anda muito preocupado com o comunismo parou no tempo e tirou o foco do presente.
Padre Gilson José Dembinski
Parapsicólogo, pós-graduado em Bíblia e Ensino Religioso Escolar