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Depois de 43 anos, Boletim Diocesano chega à sua edição de número 500

Mais de quatro décadas se passaram e muita coisa mudou no mundo. No entanto, a essência do Boletim Diocesano continua a mesma: informar e formar a partir dos valores cristãos.

31/05/2021

Toda história é escrita aos poucos. A vida é feita da somatória de acontecimentos, situações e grandes doses de perseverança. Sem atitudes e força de vontade, nada ocorre, nada se transforma.

E foi com o espírito de transformação, que em julho de 1978, o primeiro bispo da diocese de Guarapuava, Dom Frederico Helmel, deu início a um projeto ousado para a época: nos primeiros dias do sétimo mês daquele ano, já estava disponível a primeira edição do “Boletim Diocesano”.

A intenção do impresso de apenas quatro páginas, com periodicidade mensal e tiragem de algumas centenas de exemplares, era divulgar os trabalhos da Igreja em âmbito diocesano e fomentar discussões acerca da sociedade, sempre com base nos valores éticos, morais e, sobretudo, cristãos.

Desde então, muita coisa mudou na diocese, no Paraná, no Brasil e no mundo. Foram tantas histórias contadas aqui neste espaço destinado à Igreja e à sociedade que as palavras se perdem no tempo. No entanto, a essência deste periódico que hoje celebra a edição de número 500, permanece a mesma: servir como fonte de estudo e inspiração para o leitor.

Nesses 55 anos de existência da diocese de Guarapuava, contemplando a passagem de cinco bispos, há sempre uma página em branco a ser escrita e o Boletim Diocesano se mostra como este espaço de discussão, de informação e de formação.

O texto de Dom Frederico, publicado na primeira página da primeira edição do Boletim, sugeria um trabalho de formação e de união da Igreja em âmbito particular, através da notícia e de um trabalho pastoral e formativo. Conforme o bispo (em texto reproduzido abaixo, na íntegra), “as distâncias separam, a Igreja nos une”. No mesmo artigo, Dom Frederico também citava que “sua estrutura, conteúdo, deverão corresponder às exigências da missão”.

Leia o texto do bispo na íntegra:

 

A PALAVRA DO BISPO

 

Com este número, sai, pela primeira vez, a criação mais nova de nossa Diocese, o Boletim Diocesano. Sai da cidade de Guarapuava com o desejo de entrar em todas as paróquias, em todas as comunidades das capelas, nos próprios lares.

É um novo jornal que está surgindo, um noticiário local? Não é isto que o nosso Boletim pretende ser. Não é jornal, nem é revista e nem noticiário. O Boletim Diocesano deseja ser, antes de tudo, um mensageiro da Diocese.

A Diocese de Guarapuava abrange uma área tão grande, a maior de todas as Dioceses do Paraná. São áreas diversas que, no entanto, têm algo de comum. Localizada no Terceiro Planalto do Paraná, constituem o centro e o coração de nosso Estado. Os 12 municípios formam também uma unidade espiritual, uma Igreja Particular com sede em Guarapuava.

O Boletim pretende ser, portanto, um elo de união. As distâncias separam, a Igreja nos une. Esta união necessita de instrumentos, de laços, de união. Um destes será o Boletim que hoje inicia sua vida. O Boletim será um mensageiro de união.

Sua estrutura, seu conteúdo deverão corresponder às exigências desta missão. Será informativo, sim, mas será também, formativo. Um órgão destinado a formar um espírito diocesano, eclesial, a criar interesses comuns e fazer nascer laços de amizade.

Deverá ser nosso, inteiramente nosso. Os acontecimentos, a problemática, a mentalidade e o espírito da “Igreja em Marcha” deverão ser nossos. Contudo, sabemos também que não somos uma ilha, que vivemos dentro de uma realidade mais ampla. Tomaremos conhecimento dessa realidade. Mais, ainda, aceitaremos tudo que poderá promover e fomentar o nosso sentimento de comunidade com as demais Igrejas à pertença à Igreja Universal. O Boletim será de união. De união entre clero e leigos, Religiosos e Agentes de Pastoral. Deverá representar o povo, o povo de Deus em toda a sua diversificação e riqueza.

Assim, meus caros amigos, mandamos este primeiro número. Mandamos com a nossa bênção, nossos votos de vida longa, de uma atuação fecunda e universal. Que nosso Boletim Diocesano possa cumprir a sua missão e ser o verdadeiro mensageiro de Nossa Senhora de Belém, excelsa padroeira desta Diocese de Guarapuava.

 

São os votos de Frederico

Bispo de Guarapuava

Julho de 1978

CONTEMPORIZANDO

O ano de 1978 foi de muitas mudanças e acontecimentos no Brasil e no mundo, sobretudo para a Igreja. Este foi um ano que entrou para a história como o ano dos três Papas: Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II. Tudo isso ocorreu em um intervalo de dois meses. Nunca, na história, se teve três Papas no mesmo ano.

No dia 6 de agosto, morre o Papa Paulo VI depois de 15 anos de pontificado. No dia 26 do mesmo mês, depois do conclave, foi escolhido o italiano Albino Luciani para ser o Papa João Paulo I. Seu pontificado, no entanto, durou apenas 33 dias e o santo padre morreu em 28 de setembro. Este foi o pontificado mais curto da história. Em 16 de outubro, após um novo conclave, foi escolhido para bispo de Roma, o polonês Karol Wojtyla, que era bispo de Cracóvia. Ele se tornou então, o Papa João Paulo II num pontificado que atravessou o fim do século XX e rompeu o começo do terceiro milênio.

O cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, falou deste período muito significativo para a Igreja, no dia 2 de maio de 2018, por ocasião da inauguração de encontros dedicados à figura do pai, com o tema “De pai para filho. Que Deus faça seu pai viver longamente dentro de você”. “O ano dos três Papas – explicou Parolin – foi o ano dos três pais”.

A GRANDEZA DE PAULO VI

Ao recordar o Papa Montini, o cardeal Pietro Parolin evidenciou que nos anos de seu pontificado a situação na Itália e na Igreja era muito difícil. As inquietações pós-conciliar, a morte do presidente da Democracia Cristã, Aldo Moro, a lei do aborto na Itália e as grandes contestações da juventude de 1968. Foram muitos episódios que dificultaram o seu pontificado. Mas, como recordou o próprio cardeal: “a grandeza de Paulo VI emerge justamente nestes anos complicados, no seu trabalho e sofrimento para manter a Igreja unida, na sua reafirmação da verdade de fé que muitos queriam colocar em discussão, e na sua capacidade de não ceder ao pedido dos que queriam condenações definitivas e providências inquisitórias”.

JOÃO PAULO I: UMA ESTRELA-CADENTE INESQUECÍVEL

“Uma estrela-cadente inesquecível”. Assim o Secretário de Estado define Papa Luciani, o Papa sorridente e humilde que “tinha recém começado a olhar o mundo nas suas vestes de pastor da Igreja universal, e muito cedo nos deixou”.

JOÃO PAULO II: VIVACIDADE À IGREJA

A queda do muro de Berlim, a implosão do colosso comunista, a guerra étnica e fratricida dentro do coração da Europa até o fanatismo que explodiu com os episódios 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. Também os anos de João Paulo II não foram fáceis. “Durante o seu pontificado, a Igreja Católica atravessou um período de mudanças históricas que marcaram época”. Mas, apesar de tudo, recordou o cardeal, João Paulo II “com a sua fé firme e inabalável trouxe vivacidade à Igreja tendo um importante papel ao nos recordar que a Europa para respirar precisava de dois pulmões, não só o do ocidente”.

A HERANÇA DOS TRÊS PAPAS-PAIS

Depois de ter recordado alguns aspectos importantes de seus pontificados, o cardeal sublinhou a importante herança deixada por estes pais. “Todos os três nos educaram a amar a Deus e amar os irmãos. Os homens e as mulheres são antes de tudo irmãos, em busca de um sentido, de um significado, de uma resposta. O cristão vive na certeza da fé, mas jamais pode dizer que a possui, porque fazendo assim correria o risco de reduzi-la a ideologia. E esse olhar, esse sentimento, essa consciência de estar sempre a caminho, de ter necessidade de encontrar sempre o Senhor na nossa estrada, nos foi testemunhado por estes três grandes pais”, sublinha o cardeal.

OUTRAS MUDANÇAS

O ano de 1978 foi intenso em muitos setores, tanto no Brasil, quanto no mundo. Foi neste ano, quando surgia o Boletim Diocesano, que houve o que a medicina chamou de verdadeiro milagre. Louise Brown se tornava o primeiro bebê de proveta da história. O nascimento da criança foi em Oldham, na Inglaterra. Louise foi a primeira a nascer através da fertilização in vitro.

No Brasil, a ditadura caminhava para o fim com a extinção do AI-5 pelo governo de Ernesto Geisel. Seguindo a promessa de uma transição lenta e gradual, o ato que simbolizou os tempos difíceis da ditadura saiu de cena na virada de 1978 para 1979.

Foi também em 1978 que o Brasil foi apresentado à figura de Luiz Inácio da Silva, o Lula que liderou a primeira greve dos metalúrgicos da história do Brasil.

Na Guiana, uma tragédia sem precedentes matou mais de 900 pessoas em Jonestown. O líder da seita Templo do Povo, Jim Jones promoveu o suicídio coletivo num caso considerado escabroso e muito dolorido para todo o mundo.

Na Itália, o primeiro ministro Aldo Moro foi assassinado por membros do grupo: “Brigadas Vermelhas”.

Um incêndio destruiu praticamente todo o acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O fogo consumiu e fez virar pó todo o acervo de obras de arte de artistas renomados.

No tempo em que a onda disco fervia através do filme “Os Embalos de Sábado à Noite” estrelado por John Travolta, a novela Dancin Days de Gilberto Braga fez sucesso por aqui e lançou modismos como as meias de lurex e alçou definitivamente a carreira de Sônia Braga que brilhou na pele de Júlia Matos. Joana Fomm como Yolanda também roubou a cena.

Bem antes de Dancin Days estourar, a novela “O Astro” de Janete Clair parava o País com a pergunta: “Quem matou Salomão Hayalla?”, personagem de Dionísio Azevedo. No último capítulo foi revelado o assassino, Felipe, personagem de Edwin Luisi. A novela teve grande repercussão e gerou um comentário irônico de Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil. “Agora que O Astro acabou, vamos cuidar da vida lá fora”.

FUTEBOL

A Argentina foi campeã mundial de 1978 ao organizar o mundial que se tornou polêmico por conta de uma partida suspeita diante do Peru onde o goleiro Quiroga, um argentino naturalizado peruano, foi acusado de entregar a partida para os argentinos num caso jamais confirmado. O certo é que os argentinos venceram com destaque para Mario Kempes, artilheiro do campeonato. O Brasil, dirigido por Claudio Coutinho, terminou invicto e mesmo assim ficou de fora da final, se autoproclamando campeão moral.

O Guarani de Campinas se tornou a única equipe vinda do interior campeã brasileira da história. O Bugre, como ainda é conhecido o clube, conquistou seu único título nacional em dois jogos contra o Palmeiras. Dentre os destaques do elenco estavam o meia Zenon, que jogaria depois no Corinthians, o goleiro Neneca e o atacante Careca.

AUTOMOBILISMO

Na Fórmula 1, o campeão daquele ano foi o americano Mario Andretti, mas o fato que marcou a temporada foi a morte do sueco Ronnie Peterson. Peterson morreu dois dias depois da largada do Grande Prêmio da Itália quando precisou ter o carro substituído e o modelo, considerado ultrapassado, teve problemas e o tanque de combustível acabou explodindo. Ele foi retirado do carro, internado no hospital, mas contraiu uma embolia pulmonar e morreu em 11 de setembro de 1978.

MÚSICA

Conhecido como o Cantor das Multidões, na primeira metade do século XX, o músico Orlando Silva morre em 7 de agosto de 1978, para tristeza de seus fãs que se consideraram órfãos.

O JORNAL

Em meio a tantos acontecimentos e mudanças, o Boletim Diocesano surgia e, aos poucos, passava a exercer papel importante não só na comunidade católica, mas também como veículo de informação e formação cristão, como queria seu fundador, o bispo Dom Frederico Helmel.

Quarenta e três anos se passaram, chegamos à edição de número 500 e vivemos um dos momentos mais conturbados de nossa história, por causa da pandemia de Coronavírus. Nessas mais de quatro décadas de existência do Boletim Diocesano, muitas pessoas deixaram sua parcela de contribuição para que este veículo de circulação mensal permanecesse com sua essência primária: unir as pessoas. Muitos foram os redatores, editores, colaboradores, fotógrafos, arte-finalistas, dentre tantos profissionais que atuaram na elaboração deste material que se tornou um ícone da comunicação da diocese.

Atualmente, o Jornal “A Igreja na Diocese de Guarapuava”, o histórico Boletim Diocesano, continua com periodicidade mensal e, desde março de 2021, passou a ser impresso no formato de revista, possibilitando assim, mais facilidade na leitura e manuseio do material.

Com uma tiragem de quase 22 mil exemplares, o Boletim Diocesano leva informação e formação para 31 municípios, nas 47 paróquias e 1047 comunidades da diocese de Guarapuava.

O material é elaborado em parceria com a comunidade, através do trabalho voluntário dos agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom) que produzem fotos e enviam informações que são transformadas em matérias e artigos, para então, serem publicadas na revista e também nos portais www.diopuava.org.br e www.centralcultura.com.br.

Com informações do Vatican News e do blog: contandohistoria1977.blogspot.com

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