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Duas descobertas do estudo bíblico moderno

Para ler a Bíblia, precisamos entender o contexto e os gêneros literários utilizados pelos autores.

02/09/2021

Por Gilson Dembinski, pároco da paróquia Sant'Ana, de Pitanga (PR).

a) A necessidade de conhecer o contexto
Com a carta encíclica “Divino Afflante Spiritu” (1943), o papa Pio XII reconheceu e incentivou a aplicação do método científico no estudo bíblico. Com maior liberdade os estudiosos passaram a recorrer ao estudo da história, da arqueologia, linguística e outras ciências afins, com a finalidade de entender melhor o texto bíblico. 

O resultado desse esforço levou os estudiosos a afirmar a necessidade de conhecer o contexto, para compreender o texto sagrado. Pois, na medida em que o leitor conhece o contexto, torna-se mais próximo do mundo do escritor e assim fica mais fácil entender aquilo que o escritor queria dizer quando escreveu aquilo que lemos. 

Essa consciência do contexto nos leva a considerar que o mundo do escritor sagrado era diferente do nosso. O conhecimento dele era outro, sua língua, seus costumes, etc. Por isso, para uma boa compreensão do texto, devemos considerar alguns elementos fundamentais do contexto. Passamos a falar de contextos econômicos, políticos, geográficos, sociais, religiosos e culturais. 

A primeira tarefa do leitor, diante da Palavra de Deus, é buscar entender o que o texto queria dizer para as pessoas daquela época. Só depois poderá se perguntar o que tal texto diz para si, que está lendo hoje. Para facilitar, procure ler na Bíblia as notas de rodapé, o índice doutrinário, as introduções que antecedem os livros bíblicos, mapas, etc. Tenhamos presente o exemplo abaixo: 
São Paulo afirmou que vemos Deus como por um espelho, confusamente (1 Cor 13,12). Sua afirmação só ganha sentido à luz do seu contexto. Ocorre que no século I os espelhos comumente usados eram de cobre ou de bronze. Usava-se uma espécie de latão, onde se via apenas um vulto da pessoa projetado. Daí, dizia-se ver confusamente por um espelho.
 
b) A necessidade de conhecer os gêneros literários
Na mesma carta, mencionada acima, o papa Pio XII reconheceu os distintos gêneros literários, ou seja, as diferentes formas de escrever pelos homens de cada época e região, para transmitir a mensagem de fé. 

Tenhamos presente o caso do relato bíblico da mula de Balaão (Nm 22,30) e a serpente no paraíso (Gn 3,1-6). Ambos os animais são apresentados na Bíblia falando, como se fosse gente. 

Segundo o livro de Números o profeta Balaão tomou o caminho errado, contrariando a vontade de Deus. Sua jumenta tentou recuar, mas o profeta a espancou por três vezes. Nessa altura, irada, questionou Balaão: “A jumenta replicou: ‘acaso não sou tua jumenta, a qual montastes até o dia de hoje? Tenho o costume de proceder assim contigo” (Nm 22,30). Algo semelhante acontece no relato da criação, quando afirma que uma serpente induziu Eva a comer o fruto proibido (Gn 3,1-6). 

Graças ao conhecimento dos gêneros literários, sabemos que isso não aconteceu assim. Não precisamos crer que no passado os animais falavam, nem que Deus fez um milagre para que falassem. Trata-se de um gênero literário chamado fábula, onde os animais representam as pessoas ou comportamentos esperados dos humanos. O Intuito dessas histórias é transmitir uma lição moral para os leitores.

 

Diopuava

 

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